Uma questão de hierarquias, ou não
14.7.11
Já tive empregada doméstica. Foram duas entre 2000 e 2004, a Ana e a Cristina. A primeira era cartomante e a segunda tinha dois filhos e sustentava o marido que em tempos batia-lhe, mas na altura em que a conheci não. E depois, em Lisboa, durante uns meses também havia a empregada que o Jaime tinha, mas dessa não sei nada, porque nunca me cruzei com ela. É claro que ter alguém que cuide da casa por nós é uma maravilha, mas eu não sei ter empregada doméstica. Não sei ser uma senhora. Não sei dar ordens a empregadas domésticas, por isso é que tanto a Ana como a Cristina mandavam em mim. Diziam-me o que eu tinha de comprar para limpar o chão, ou a banheira. Mudavam o sítio dos sofás e decidiam que roupa passavam a ferro e a que ficava por passar por falta de tempo. Se eu podia dizer-lhes o que fazer? Podia, e às vezes fazia-o, mas sempre com um bocado de medo, como se tivesse a meter o nariz onde não era chamada. Sim, é verídico, tenho medo das empregadas domésticas. Mas, quer dizer, há todo um universo à volta da domesticidade que me desculpa. Basta ver a peça do Jean Genet, ou ler O Jardim da Duras e fica-se com uma ideia.
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E continuas com essa mania de seres a única, mas quando rematas com as referências bibliográficas deitas-me ao tapete, pronto.
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