No circo

2.1.11
Fui ao circo. Não sei até quando resistirá este espectáculo obsoleto, em que os trapezistas voam no ar e a seguir vendem bandoletes que piscam e desmontam cenários, mas enquanto resistir continua a despertar, no meio de muitos sentimentos contraditórios, uma certo encantamento. Talvez seja uma reminiscência do meu plano falhado para fugir com o circo que montava a tenda no terreiro em frente a minha casa. Acho que a única pessoa que suspeitava do meu plano era o rapaz palhaço por quem me enamorei, apesar de não gostar de palhaços, e que acabou por morrer, uns meses depois de desmontarem a tenda lá do sítio, por causa de uma cerveja gelada. Fiquei chocada e lembrei-me da terrível dor de dentes que teve de esquecer durante uma matiné - mas que o obrigou a pedir ao meus tios que o levassem ao hospital à noite -, como se acreditasse que depois daquilo a vida lhe fosse correr melhor. Mas não, morreu.
Agora já não planeio fugir com o circo. Tiro fotografias aos pequenos com o leão bebé.

1 comentário:

  1. Credo para as cervejas geladas. A esta hora eras trapezista... Vês como é o destino?

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