Espalhar-se ao comprido

31.1.25

Ora bem, parece que vamos começar um desafio como deve ser e a Joana Valente explica-o aqui muito bem.

Quando vi que o tema proposto era Espalhar-se ao Comprido pensei: ''Aqui está um tema que resume a minha vida". E num relance vi os meus espalhanços a passarem à frente dos olhos: Eu a estudar para ser jornalista e a não conseguir ser mais do que jornaleira; eu a desejar ser mãe e a sair da maternidade com uma bebé chorona, que ainda assim chorava menos do que eu; eu a casar-me depois de viver sete anos com o pai da minha filha e a divorciar-me um ano depois; eu a comprar uma casa em Lisboa e passado dois anos ter de a vender, porque não tinha rendimentos suficientes para a pagar; eu a abrir uma garrafeira e a fechá-la passados cinco anos, e esse foi um negócio bem sucedido, comparativamente ao anterior; eu  aos 50 anos a voltar para casa da minha mãe. Vamos fazer uma pausa. 

...


Porque este último é o melhor, na espectacularidade, ou então é por ser o mais recente. É o equivalente àquelas quedas na passerelle, ou nas escadas para o palco a caminho de receber um Óscar, só que sem essa recompensa. Mas, convenhamos, depois de cada um destes espalhanços houve que levantar e seguir e, ainda, tudo o que ficou para contar, porque como diz Ariano Suassuna ''Tudo o que é ruim de passar é bom de contar''. 

E nós preferimos ter o que contar, não preferimos? Além disso, de que outra forma eu teria viajado, e bebido champanhe, na primeira classe da Air France? Teria insistido em ser a melhor mãe que conseguisse; teria acreditado que melhor é possível; teria passado temporadas em Santa Apolónia, recebido a Mnemónica na Vinharia, no âmbito do Correntes D' Escrita (que está quase de regresso à Póvoa de Varzim); estado com o JP Simões no Aduela, no lançamento d' As Crónicas do Autocarro, do Jorge Manuel Marmelo e, finalmente, como chegaria a Profissional do Turismo (é o que diz o meu contrato de trabalho), se não tivesse obrigatoriamente de arranjar um emprego? Ah? Como?

É claro que eu comecei a escrever essa história, do último espallhanço, a falar sobre o mesmo ponto de partida, em dois tempos diferentes, mas não terminei-a, como todas as outras. Talvez esteja na altura de arranjar um Fim para as minhas histórias.

Enquanto não temos um espaço comum podem seguir os links para ver como se espalharam ao comprido as outras pessoas do coletivo:

O Blog Azul Turquesa

Kaputt 2.0

Gralha Dixit

A Gata Christie

O terceiro paraíso

26.1.25


Pronto, acabei de me reconcliar com o jornalismo, por causa de um artigo no Público de hoje. Não vamos discorrer sobre o facto de o artigo em questão ter sido escrito por um ensaísta e professor universitário, ok? Até porque esse detalhe está muito de acordo com aquilo que o artista Michelangelo Pistoletto defende, acho eu, que é juntar pensadores e artistas de diferentes áreas, além de representantes do sector industrial, para que todos possam contribuir para "uma transformação social responsável".

Bom, também tenho de mencionar a reportagem sobre o ensino profissional, esta, sim, escrita por uma jornalista e bastante bem feita, e poderia destacar outros artigos, mas ainda não os li. 

O que me fez pegar numa caneta para sublinhar e destacar ideias que subscrevo, como por exemplo: "o projecto Love Difference, um movimento que 'combina a universalidade da arte com a ideia de transnacionalidade política' centrada nas políticas para o Mediterrâneo, região que 'reflecte os problemas da sociedade global'.", foi o mesmo que me fez vir aqui escrever, quando já tinha decidido, antes de comprar o jornal e depois de ler a newsletter (não há um termo em português, pois não?), que ia escrever sobre cabines telefónicas  (ainda há 8000), porque já me aconteceu de precisar de uma e andar uns quantos quilómetros à procura e acabar por desistir e pedir o telemóvel a uma pessoa desconhecida. Sim, eu sou essa pessoa que sai de casa sem telemóvel.

Há mais, muito mais, ideias que vale a pena destacar, desde logo a ''demopraxis'' em oposição à democracia - ''Se a democracia é o sistema do poder do povo, a demopraxis equivale à prática do povo. 'É inevitável cada indivíduo ocupar o poder. Os partidos são parte da governança; delegamos o nosso poder a uma ideologia; e cada partido tem as suas ditaduras. Não é uma prática.' A aspiração é agora 'cada um fazer a sua parte.'''

Resumindo, e como sempre defendi: A arte salva. Quando fui à procura do(s) post(s) onde escrevi isto, e li uns quantos que me deixaram espantada com as coisas que já fiz e a forma como escrevi sobre elas (sobre a arte salvar é que não encontrei nada, apesar de ter a certeza que me referi a isso numa das #Cartas  à Bea) não pude deixar de pensar em todas as coisas incríveis da vida das pessoas que desconhecemos. Que os artistas continueam a mostrar-nos as vidas reais, as vidas possíveis e as alternativas, porque não tenho dúvidas de que é isso que salvará a humanidade. A humanidade que restar. 

As coisas

16.1.25

Quando escrevi no post anterior ''Não consigo deixar de ver um certo sentido para as coisas'', fiquei a pensar o que quereria dizer exactamente com coisas. Parece-me que quando nos referimos às coisas, num determinado contexto, queremos dizer tudo, abranger tudo o que conhecemos. O dicionário dá-me razão: ''tudo o que existe ou pode existir real ou abstratamente'' (Infopedia).

Seja como for, fiquei com a palavra às voltas na cabeça, com a sensação que escondia algum mistério, maior do que ''tudo o que existe, ou pode existir''. Pode ser que ande a ler demasiada filosofia para os tempos que correm, mas os tempos que correm exigem isso mesmo, que não nos deixemos ficar pela superfície daquilo que achamos que existe. É preciso ir um bocadinho mais fundo. As contas por pagar, as más notas dos miúdos, a vida transformada em ''métro, boulot, dodo'' não pode ser desculpa para não querer saber.

E decidir que o jantar de hoje é salmão e o de amanhã costeletas, com tudo o que isso implica - compras, cozinhar, ouvir reclamações, não me impede de ler Séneca, ou Santo Agostinho. Nem de querer melhor para os tempos que correm. 

Ver a beleza

12.1.25
Estava sentada no banco, à espera da minha vez - no banco instituição financeira e não no objecto onde nos podemos sentar, e vi uma aranha, não muito grande nem muito pequena, a atravessar a sala. A delicadeza do bicho a patinhar o chão de mármore e o contraste entre a pequenez daquele e a grandeza deste deixou-me comovida. 
Não consigo deixar de ver um certo sentido para as coisas, quando me detenho em detalhes como este. Era como dizia numa conversa, no outro dia: parece-me que a espiritualidade está directamente relacionada com a capacidade de ver a beleza. E a certa altura da vida já não temos como virar-lhe as costas.

Dia de Reis

7.1.25
Para termos um Natal todos juntos, todos os anos, decidimos usar o Dia de Reis para juntarmo-nos - ou seja, comer e beber, e trocar prendas. É claro que é uma pena não ser feriado neste dia, mas vamos ajustando disponibilidades para escolher o dia mais conveniente e mais próximo do dia 6. 
Gosto desta nova tradição na nossa família e quero acreditar que daqui a uns anos, quando todos eles já estiverem nas suas vidas, vamos continuar a ter um almoço, ou jantar de Reis. Por enquanto, somos seis, depois veremos a família crescer, espero eu. 
Virão tempestades, crises económicas, pandemias, novas descobertas, novos líderes, outras guerras, ou a mesmas, mas nós teremos o nosso Dia de Reis. O nosso dia contra as asperezas do mundo. Um dia para nos lembrarmos quem somos
E eu terei sempre um presente perfeito. Sei que sim. O deste ano foi um livro. Foram dois na verdade, mas um deles deixou-me muito emocionada. Foi a minha filha que o comprou e me o ofereceu (tanto sentimentalismo nesta frase!). 
Também poderei, ou não, continuar a escrever, todos os anos, sobre o Dia de Reis, ou sobre o que me apetecer, porque esta forma de comunicar é, como se sabe, muito atrativa, mas quero tentar não perder de vista, o que Marco Aurélio disse, citado pela Irene Vallejo no livro Alguém Falou Sobre Nós: "O que vemos é uma perspectiva, não é a verdade; o que ouvimos são opiniões, não factos. Não devemos esbanjar a parte que nos resta da vida em representações sobre o próximo, se não for pelo bem comum."

Vamos lá

1.1.25

Se eu quero escrever mais em 2025, talvez deva começar já, certo? 

Quando abri os olhos, hoje de manhã, não, ainda não tinha aberto os olhos, só tinha ligado o cérebro, ou a parte dele que pensa, lembrei-me de duas coisas: a partir de certa altura da minha vida, todos os primeiros dias do ano começam com ressaca; e esta foi a primeira passagem de ano em que não senti medo, entusiasmo, esperança, nada, ou nada demasiado avassalador, como é meu apanágio. Subimos o monte com os miúdos, levámos vinho e copos, claro, estavam lá centenas de pessoas, ao contrário do que esperava, vimos os vários fogos de artíficio, no horizonte, desejei Bom Ano às pessoas à minha volta, brindei com o Jaime e atendi o telefonema da Bea, com as habituais inabilidades digitais.

Estava frio, muito frio. Isso senti.

Depois acordei, levantei-me, comi pão com queijo e ovo mexido, bebi café e fui caminhar.

Vamos lá, então, começar 2025!