Dias estranhos

30.4.15
Desde que retirei o DIU (Dispositivo Intra Uterino), no final do mês de Fevereiro, perdi dois quilos e engravidei, segundo três testes da farmácia.
Calma, a análise ao sangue confirmou que não estava grávida e o período acabou por aparecer mas foram dias um bocado estranhos. Muito estranhos.

4

28.4.15
Ele pediu um bolo cor-de-rosa com amêndoas e assim foi.
É um Beatiful Boy, o meu querido Nicolau, e eu não consigo deixar de ficar fascinada com as diferenças entre as três pessoas que saíram da minha barriga.

P.S Nos últimos meses ele insiste em usar uma camisola branca (camisola interior) e meias-calças sempre que está em casa. Na verdade, ele insiste em usar esta indumentária em várias situações mas lá temos conseguido convencê-lo, a maior parte das vezes, a vestir-se "normalmente" para sair de casa.

14

28.4.15

Hoje faz anos o Nicolau. Quatro anos. Está tão feliz o meu pequeno rapaz!
Ela fez 14, no domingo, e eu estou muito Stevie Wonder: Isn't She Lovely?
Isto é muita emoção para uma mãe só.

P.S aquilo no prato são brigadeiros e tinham muito melhor aspecto do que parece. 

Educação musical

23.4.15
Um dia destes revimos o Blue Valentine - há poucos filmes que conseguem mostrar o desgaste de uma relação de uma forma tão inteligente como este - e por causa da banda sonora o Jaime acabou por descobrir os Dead Man's Bones.
Como ele é daquelas pessoas que quando ouve uma coisa que o entusiasma nos obriga a todos a ouvi-la vezes sem conta, acaba por contagiar os miúdos. Agora, por exemplo, estão ali a ouvir o Lose Yor Soul mas os pequenos já pediram para ouvir a seguir o Samuel Úria e os Mão Morta.
Eu agradeço-lhe profundamente podermos fazer viagens de carro com boa banda sonora, mas não sei até que ponto não acabaremos por ser julgados, mais tarde ou mais cedo, por eles trautearem coisas como "chá[rro] aqui, chá[rro] ali, mais um vodka pr'atestar".

Acasos

21.4.15
Os acontecimentos que se seguem ocorreram hoje, entre as 9h30 e as 10h30. Provavelmente, não seriam dignos de registo (bem, o segundo seria, certamente) se não tivessem acontecido de seguida. O acaso é verdadeiramente fascinante.

Primeiro: depois de deixar os miúdos na escola telefonei a uma amiga e fui procurar um vestido para um casamento numa loja de roupa em segunda mão. Uma mulher cruzou-se de frente comigo e achou por bem agredir-me, com o balanço do braço, na coxa. Podia ser casual, acontece, mas foi com tanta força que era impossível ela não ter a intenção de me atingir. Não faço ideia quem era, não reparei nela sequer, e quando olhei para trás ela continuou a andar como se nada fosse. Mas eu fiquei impressionada. A ruindade impressiona-me sempre.

Segundo: vou levantar dinheiro ao multibanco para ir à frutaria. O multibanco da rua não tem dinheiro. Entro no banco e estão duas chinesas a usar a caixa. Está um senhor à espera e uma outra rapariga. A certa altura ele resmunga impaciente: "Parece que estamos na sopa do Barroso". Olho para ele e vejo que é o Lobo Antunes. Penso que é impossível, apesar das semelhanças, porque não o imaginava nesta zona da cidade (entretanto confirmei que ele vive aqui perto) mas é demasiado parecido e aquela frase naquele tom...Era o Lobo Antunes, só pode.

Terceiro: compro um saco cheio de fruta e legumes na Rua do Zaire e venho a arrastar-me até casa. Chego à porta e, pois claro, não tenho chaves. 

A brincar às casinhas

20.4.15
Agora falta arrumar as roupas de Inverno mas isto é sempre um risco, uma pessoa sabe lá se de hoje para amanhã não começa a nevar.

Há coelhos debaixo da cama

17.4.15
Quando durante o sono me apercebo que tenho a mão fora da cama, e não faço ideia como é que isso se processa, acordo e volto a pô-la debaixo dos lençóis, por causa do coelho que me mordeu, quando eu tinha uns seis, ou sete anos.
A minha mãe jurou a pés juntos que eu tinha tido um pesadelo, mas eu estava com os dedos doridos dos dentes do animal e, por isso, era impossível ter sonhado. Para mim, desde então, é mais ou menos evidente que existem coelhos debaixo da cama. 

Há experiências que não se esquecem

15.4.15

Há muito tempo escrevi uma história sobre a "ti" Deolinda baseada em factos reais. A certa altura, para fazer o enquadramento psicológico da personagem, precisava de mostrar (achava eu, na minha completa e total ignorância das técnicas literárias) o quão afastada ela vivia dos dias de hoje. Escolhi, entre outras coisas, escrever sobre o que comia, ou melhor, sobre o que nunca tinha comido: iogurtes, cogumelos, molho béchamel, quiche, esparguete à bolonhesa, mangas e acerola.

Quando me pediram para escrever sobre espargos bravos, na semana das plantas silvestres do Lifecooler, a primeira coisa que pensei foi: será que a "ti" Deolinda comia espargos? Se eu comi espargos pela primeira vez já depois de ter sido mãe, é muito provável que ela também nunca tenha comido, apesar de ter passado a vida a trabalhar nos campos. Até porque, mesmo que ela alguma vez tenha apanhado espargos (e eu nunca vi espargos lá na terra, só nas prateleiras do supermercado e no prato) o mais certo seria fazê-lo para vender a uns tostões na cidade mais próxima.

Seja como for, não é sobre a velhota que me pedia para fazer roscas para os netos que quero falar mas sim sobre a minha experiência com os espargos. Lembro-me perfeitamente de onde os comi pela segunda vez. A primeira sei que foi com uns "revueltos" e fiquei fascinada, não só pelo sabor, como pela chiqueza do nome que davam aos ovos mexidos, mas não me lembro onde é que os comi.
A segunda vez foi em Zurique, num restaurante em Niederdorf. Pedi risotto de espargos e cogumelos e comi-o enquanto amamentava o Isaac. Quando penso nisso ainda fico com água na boca.
Também aconteceu de um carteirista em fuga cair em cima do Jaime, enquanto eu dava uma entrevista para um programa de televisão universitário, mas aquele risotto...

Achei que iam gostar de saber

13.4.15
Depois de intensas experiências e vários registos alimentares cheguei à conclusão que sou intolerante ao trigo. Não, não tem nada a ver com o glúten, já que o tolero perfeitamente noutros cereais, é mesmo o trigo.

Magnórios

10.4.15


No dia do aniversário do Jaime fomos ao cinema ver O País das Maravilhas e, hoje, quando fui à janela e vi as duas nespereiras lá em baixo, no jardim da casa vazia, achei que as duas coisas estavam relacionadas.

Risotto

8.4.15


A ideia era criar uma receita "original e criativa" com o Limiano Ralado para Momentos Derretidos. Pensei logo em risotto, que é uma coisa muito pouco original mas que me andava a apetecer comer sei lá há quanto tempo, porque: 1) ninguém é grande apreciador aqui em casa e 2) raramente tenho todos os ingredientes necessários de uma vez.
Acontece que, quando o queijo chegou cá a casa eu tinha um belo de um risotto carnaroli, que tinha trazido do El Corte Inglés, daquela vez que fui até lá de fato de treino, e tinha guardado um bocado de caldo de legumes da sopa do dia anterior, portanto só faltava o vinho branco e a abóbora (que costumo ter congelada mas não era o caso).
Ficou assim decidida a receita.
Hoje, no regresso da minha caminhada pelas colinas de Lisboa comprei o que faltava e fui para a cozinha.
(Nota mental para mim própria: nunca mais fazer estas coisas em horas de refeições, pois corre-se o risco de acabar esganada de fome)
Os ingredientes que usei são os que estão à vista, mais uma pitada de flor de sal, o azeite e três nozes que decidi espalhar por cima do arroz, por me parecer que abóbora e noz é sempre uma boa combinação.
Não sei se era da fome, ou se a receita correu mesmo bem, sei é que este risotto soube-me pela vida! Assim sendo, senhores do júri, se não escolherem a minha receita não faz mal, acho que já ganhei o dia.

P.S Para quem não sabe fazer risotto é ir ver como faz o Henrique Sá Pessoa.

Cheirica, a cruz e a consequência

7.4.15
Por onde começar? Se calhar pela forma do verbo cheiricar. A minha mãe (quem mais) passa a vida a chamar cheirica à minha avó e, pelos vistos, ninguém da minha família descendente fazia ideia que tal palavra existia, achavam que tinha sido inventada pela minha mãe.
Já disse aqui que vou muitas vezes à casa da minha infância à procura das palavras e dos sons dessas palavras e se é certo que encontro sempre coisas que não procuro e que não me apetece nada encontrar, também é verdade que jamais poderei deixar de o fazer.
Além disso, não há internet e na televisão só dá a Canção Nova (vão procurar, a sério, eu estive a ouvi-la uma semana inteira, por mim já chega), por isso estar longe dos ecrãs é, no mínimo, saudável. Angustiante, às vezes, mas saudável.
Por falar nisso, viram aquele artigo do Público? Talvez o Game Boy que o meu irmão repescou da garagem para o Isaac não seja assim tão mau, ou será o início de tudo o resto?

O compasso. No dia de Páscoa estava com muitas dores de cabeça derivado a ter festejado os 42 anos na noite anterior. Por isso, passei o dia naquele estado submerso. Quando o compasso chegou, a minha avó, não se apercebendo que o ministro já estava a abençoar a casa e a família, virou-se para nós a explicar quem eram aquelas pessoas: "aquele é o marido da Cidália, sabias?" Foi extremamente difícil controlar o riso. Ainda por cima, quando a cruz se aproximou, beijei Jesus num sítio muito impróprio.

Os 42 anos. Perguntaram-me várias vezes se também ia mergulhar no mar este ano. Eu não costumo decidir como vou festejar o aniversário. Aliás, tanto se me dá festejar como não festejar. Acontece que este ano estava muito perto do Porto, logo faria todo o sentido festejar com os amigos, como bem me lembraram.
Teria sido muito mais bonito se não tivesse saído do carro disparada, depois de discutir com o Jaime, para ir dormir sozinha. Mas posso sempre dizer que foi diferente.