Voltemos ao meu umbigo

30.4.13
Podemos fazer isto literalmente e falar do buraquinho sexy/nojento (riscar o que não interessa) no meio da minha cada vez mais balofa barriga e de como, por causa disso, da balofice, me visto cada vez com mais desleixo, dando por mim a sentir um certo respeito pelas pessoas aprumadas ao invés do meu habitual cinismo, no sentido filosófico do termo. Na verdade é mais sobranceria o que me assiste, perante tanto trabalho com a aparência, mas não hoje.
Por isso, falemos do meu umbigo metaforicamente. Passaram três meses desde que passei a ser uma assalariada. É uma vida bastante deprimente, mas a mudança de rotinas, que era exactamente o que eu estava a precisar, fez-me bem. É claro que ter-me-ia feito muito melhor passar três meses nas montanhas Jura a escrever coisas. Seria uma mudança de ares e rotinas muito aprazível, mas, bom, não tenho meios para isso e assim como assim faz-me sempre bem uma dose q.b de realidade.
O que me preocupa é eu fartar-me das coisas cada vez mais depressa. Há uns anos o limite de tempo para trabalhar num sítio era três anos, agora parece que é três meses, o que até faz sentido, porque à medida que o tempo passa, menos tempo queremos perder com coisas que não interessam, mas é cansativo. Nem imaginam o quão cansativo é ser eu. Já pensei muitas vezes que devia mudar, que devia seguir um manual qualquer para ser feliz em seis passos, ou, pelo menos, sistematizar as coisas que funcionam comigo e aplicá-las a uma rotina, mas isso seria como calçar uns sapatos de salto alto e vestir um sutiã com enchimento e arames. Toda a gente diz que faz uma diferença do caralho, mas eu prefiro ficar com a minha roupa interior de algodão coçado e as minhas sapatilhas. 

Os dramas dos outros

29.4.13
Demoro eternidades a separar-me do sono. Vivo outra vida enquanto durmo, tenho a certeza, porque há vários eventos que tomo como certos quando afinal faziam parte de sonhos.
Por exemplo, um dia encontrei um conhecido que eu achava que estava morto e afinal estava ali à minha frente a conversar comigo. Por momentos cheguei a pensar que podia estar a ter uma alucinação, porque a morte dele era tão real como ele estar ali.
Demoro eternidades a separar-me do sono e isso nas logísticas matinais pode ser bastante dramático, mas depois ligo o computador e levo no focinho com os dramas dos outros e fico sem vontade de falar dos meus.

2, ou a última festa de aniversário de Abril

28.4.13
Este mês festejamos duas vezes 40, uma vez 12 e uma vez 2. Feitas as contas o resultado é quatro. Quatro festas e nenhuma é para o Isaac, que aguarda ansiosamente por Setembro e pela festa dele que, pelos vistos, terá confetis.
E porque não estou eu ali na sala a rebentar balões com o resto da família (na verdade só os rapazes estão a brincar, porque a Bea recebeu livros no aniversário e, portanto, só os larga quando acabar de os ler)? Porque às vezes parece-me tudo demasiado. E o demasiado, às vezes, é incómodo.
Antes que comecem todos a bater-me, com razão (?), por falar em incómodo no segundo aniversário desta maravilhosa criatura, deixem-me só dizer que estão todos tão felizes que até mete nojo. Por isso, vou voltar para a sala. É ali que a vida acontece, com o meu mau humor incluído.

Online

26.4.13
E hoje é também o dia em que pomos no ar o"nosso Oporto Lobers", como lhe chama o Isaac. Estamos ainda a gatinhar, mas daqui até começar a andar é um instante.
É uma espécie de negócio, sim, mas por tudo quanto é sagrado não nos chamem empreendedores. 
O site, que ainda não está optimizado para o Internet Explorer, foi feito com a ajuda da boa gente que habita naquele já famoso quarto.

Liberdade

26.4.13
Percebi o verdadeiro significado do 25 de Abril já bastante tarde, andava na escola secundária, porque até aí era assim como um dia de Primavera que aquece os corações das pessoas com os primeiros raios de sol, depois de uma eternidade de dias de chuva e que chega com música (uma gaivota voava, voava,/ asas de vento,/ coração de mar...).
Temos muitas, muitas razões para nunca esquecer o que significa o 25 de Abril. Mas o que me traz aqui são trivialidades: Neste 25 de Abril o Isaac enterrou a chupeta no jardim da Estrela e o Nicolau pediu, pela primeira vez, para lhe tirarmos a fralda e foi fazer xixi na sanita.

12

26.4.13
by LOC
Há 12 anos fui apanhada completamente desprevenida pela vertigem com que esta miúda me rodeou nos primeiros meses (anos?) de vida. Foi tudo estranho. Foi tudo novo. Foi tudo diferente, muito diferente, do que tinha imaginado.
Ao longo destes 12 anos ela aprendeu a comer, a falar, a caminhar, a levantar-se depois de tropeçar, a fazer xixi e cocó no pote, a gostar de contos de fadas, a dançar ballet, a ler, escrever e fazer contas, a questionar os contos de fadas, a aceitar a diversidade, a partilhar (sim, esta parte aprendeu um bocadinho tarde), música, a aceitar as lágrimas, a erguer-se depois de cair, a falar inglês (melhor do que eu) e outras coisas que de ceretza me estou a esquecer.
E isto, minha querida, ainda é só o início.

É o amor?

24.4.13
Estava a ver a apresentação do filme de João Canijo e lembrei-me de quando andava de carro com a minha irmã e ela punha a cassete do Tony Carreira e cantava emocionada com os filhos (na altura só tinha dois, com quatro e sete anos) as músicas que saíam das colunas do tablier. Lembrei-me também das canções do José Cid e do Marco Paulo que saíam das colunas penduradas na torre da igreja nos dias de festa. E do Passarinho que queria voar, do Tó Maria Vinhas, que o meu pai ouvia num gira-discos (acho eu, porque não me lembro de termos um gira-discos, mas tínhamos discos, por isso...). Ouvia e cantava emocionado enquanto a minha mãe, que tinha sérios problemas com manifestações de alegria, protestava.
Há tanta coisa que se foi desligando de mim naturalmente, com o passar dos anos, mas a música, um certo tipo de música, continua a fazer-me recuar a sítios muito particulares, a sítios com uma linguagem diferente, onde, por exemplo, se usa particular em vez de privado.

Finos e tremoços

23.4.13
Está decidido. Vou sair do trabalho, apanhar os meninos no jardim, ou a caminho de casa, e alapar-me numa esplanada a beber finos e a comer tremoços. Os meninos são gajos para me fazerem correr atrás deles no passeio, ou olhar de soslaio para o Jaime (que vai fazer todos os possíveis para sair cedo) como quem diz vais ficar aí alapado? que por acaso é raro acontecer, porque quem anda sempre a correr atrás deles é ele, mas eu olho na mesma de soslaio, sobretudo se começarem a guinchar, que é uma coisa que me tira do sério. Também poderá vir ao de cima o tema contenção de despesas, mas o mesmo será esquecido logo após o terceiro fino.
(É claro que entretanto mandei a mensagem ao Jaime com os meus planos e ele desligou o computador e pôs-se a andar. Agora está à minha espera.)

Lá por casa

22.4.13
Coisas mais ou menos estranhas que acontecem lá por casa:
Eu acordar a meio da noite sem saber onde estou, sentar-me na cama, perceber que está um gato a dormir aos nossos pés e acordar o Jaime aos safanões para lhe perguntar se temos gatos.

O Isaac, à mesa, a perguntar-nos se o que estamos a comer são paparis (eram wraps), quando nenhum de nós se lembra da última vez que comemos paparis, para logo a seguir responder "xixi cocó", a qualquer pergunta/comentário que lhe fazemos.

Passarmos um fim-de-semana em limpezas/arrumações e a casa ficar limpa, sim senhor, mas mais caótica do que o que estava.

Tanto mal e tanto bem

21.4.13
Fui , com as tripas a revolverem-se-me na barriga, porque apesar de o teste dizer que sou uma ENFP e, por conseguinte, adorar pessoas e estar no meios delas, a verdade é me sinto sempre um bocado em pânico perante a perspectiva de estar entre desconhecidos, sobretudo se forem muitos, como se afigurava o caso.
Não fosse a causa tão nobre e, quase de certeza, arranjaria uma desculpa, sobretudo, porque já tinha cumprido com a parte a que me tinha comprometido: oferecer os meus trabalhos manuais para serem vendidos. Mas, felizmente, tinha prometido à mãe da Pitikim que compraria alguma coisa por ela, para a representar neste evento. E eu digo felizmente, porque assim pude assistir a uma coisa verdadeiramente espectacular. 
Nem tudo, num evento destes, é altruísmo puro e duro. Eu sei disso. Mas, muitas vezes, os fins justificam os meios e neste caso justificam muitíssimo. 
Para mim* este evento valeu a pena por duas razões: cumprimentar algumas das pessoas que organizaram o "Todos por um" e ver verdadeiro amor pelo próximo (jamais esquecerei os olhos da SMS); e ver a minha ex. vizinha que foi lá como eu mas ficou a vender bolos até ao fim da festa. Tive muita pena de não ver as mamas da Pólo Norte. Quer dizer, acho que ela não andou lá a exibi-las, mas eu andei durante algum tempo a olhar para as mamas das loiras.
Acho que ter visto de perto os motards cristãos, também me deixou bastante emocionada, assim como o olhar triste do Jaime por não poder ser dador. E perceber que às 10h30 já só restava uma das peças que tinha oferecido para venda, também.
Este mundo é mesmo desconcertante: Tanto mal e tanto bem ao mesmo tempo!

* Obviamente eu sou a pessoa que menos interessa neste evento, mas sou eu que escrevo aqui, portanto só posso falar daquilo que me diz respeito. 

É preciso tão pouco para sermos felizes*

19.4.13
(Foto do meu aniversário, algures na parte 3, antes de chegarem algumas pessoas e depois de ter saído uma ou outra.)

*E, no entanto, é preciso tanto para o tão pouco.

I' m a bad stay-at-home mom too, Penelope

17.4.13
A Rosa Pomar atirou umas achas para a fogueira do homeshcooling, no facebook, e eu de link em link fui parar a este post. Obviamente, sorri e acenei afirmativamente várias vezes para o ecrã:

"Often, because of where we are in life, we have to do something that is not easy for us to do. We try anyway".

"So then don't tell people who hate staying home with kids that they shouldn't stay home. Because I don't tell you that even though your kids need to eat you should not go to work because you don't have the temperment. I think we just have to figure out how to work with what we have. No one has a perfect personality for every stage of their life".

Depois, como não poderia deixar de ser, fui fazer o teste para ver qual era o meu tipo na classificação de Myers Briggs (MBTI) e diz que sou uma ENFP. Ainda não sei exactamente o que é que isso quer dizer, mas estou prestes a descobrir. Gosto tanto de testes de personalidade! já ganhei o dia.

Eu não sei ajudar pessoas

16.4.13
Vou participar no "Todos por um", claro, e não faço nada de especial, porque a bem dizer tenho aqui coisas que não foram vendidas. A escola da Bea também vai participar com um concerto. Acho que nunca tinha assistido a uma mobilização tão grande para ajudar alguém. É muito bom. É comovente. E espero que a mãe do Rodrigo consiga salvar o seu menino.
Mas e os outros todos?
Eu não sei ajudar pessoas, não sei. Estou aqui agoniada. Tenho a certeza que esta gente toda pode fazer a diferença, não só com o contributo financeiro que poderá permitir à mãe procurar outras soluções fora do país, como com a energia positiva gerada por esta enorme onda de solidariedade, mas fico em ânsias, sinto-me doente. Uma pessoa é obrigada a tirar as sapatilhas Merrell, para ir chafurdar em desgraças alheias, desgraças mesmo e fica cheia de medo de perder o pé. Cheia de medo. Quantas crianças estão a fazer tratamento no IPO? O que faz a APCL? E se um dia eu tiver de enfrentar uma coisa destas? 
Estou aqui agoniada.
Eu não sei ajudar pessoas, mas ainda bem que há quem saiba. Um bem haja para a Pólo Norte, a SMS, a Miss Glittering e todas as pessoas anónimas que ajudam todos os dias quem precisa.

Michelle Dubois (ou hoje acordei assim)

15.4.13
Em casa com os dois pequenos, porque um deles está com febre. Agora escutem com atenção que eu só vou dizer isto uma vez: Tão mais fácil trabalhar, senhores, mas tão mais fácil!

P.S Não digo que é melhor trabalhar, apenas que é mais fácil.

Mais sol

14.4.13
Já hoje não faço ideia se as gentes sorriem, porque há demasiada roupa para estender e dobrar, demasiado pó para sacudir e humidade para espantar. Há também febres para curar.
E há-de haver uma fórmula secreta que permite assegurar as tarefas do dia-a-dia de uma família de cinco sem se sentir o desperdício de tempo que as mesmas acarretam e sem se recorrer aos serviços de uma empregada doméstica. Quando a descobrir aviso. Até lá continuarei a fazer de conta que tudo isto faz muito sentido.

Sol

13.4.13
Hoje fomos comer uma bifana ao Rossio e toda a gente sorria. Toda a gente.

Saudade

11.4.13
Ao ler esta crónica percebi finalmente esse sentimento que dizem ser exclusivamente português, porque a palavra só existe em português: a saudade. Dizem, as pessoas que estudam estas coisas, que a língua de um povo determina a sua forma de ser (e disse-me o Jaime que os timorenses são como o tetum, uma língua em que hanoin é a palavra usada para traduzir "saudade" e que também quer dizer "pensar"), mas não é disso que quero falar, até porque não me lembro de quase nada do que disse o Wittgenstein e o Roland Barthes, os únicos que tenho uma vaga ideia de ter lido sobre este assunto (e aqui poderíamos abrir um outro parêntese para falar sobre a minha memória, mas agora não interessa nada).
Voltando à saudade, foi exactamente aquela parte do texto em que o jornalista diz que só vê os pais uma vez por ano e por isso tem saudades dos almoços de domingo, ou que sente saudades de ver a afilhada tornar-se mulher, porque a deixou criança antes de sair do país, que finalmente compreendi a minha não saudade dos filhos bebés. É certo que eu ainda tenho um filho bebé, mas também tenho uma filha de quase 12 anos e outro que vai fazer quatro. E não, não sinto saudades dos meus filhos pequenos. Percebo agora porquê.
Eu vivi tudo o que havia para viver enquanto eles foram pequenos. Vivi tudo muito intensamente. Nem sempre aproveitei tudo que havia para aproveitar e disso, sim, tenho algumas saudades, mas de resto está bem assim: Eles a crescer, às vezes muito depressa, às vezes muito devagar.
A saudade é, portanto, um sentir falta do que não se viveu. Por isso temos muitas vezes saudades do futuro. Quem é que disse isto? Terá sido o MEC? Bom, na altura não fez tanto sentido como faz agora.

Eu devia era ter feito um empadão e pronto

10.4.13
Ontem fez ele 40 anos e eu já sabia que não valia a pena tentar surpreendê-lo com grandes coisas, porque 1) já não tinha tempo para isso, 2) não tenho mesmo jeito e 3) as coisas que planeio, por norma, correm mal, daí dar uma certa preferência ao improviso. Mas o improviso...
Decidi, no próprio dia, que no aniversário dele teria de haver sushi e ostras e por isso tratei de ver como fazer a coisa. Antes disso lembrei-me que o melhor seria não ir trabalhar e passarmos o dia juntos, mas não tive coragem, já tenho de faltar muitas vezes quando os miúdos ficam doentes.
Por isso, almoçamos juntos, o que invalidou a compra da prenda a essa hora, mas como podia ser comprada na internet, saí num instante para ir ao multibanco tratar do Mbnet, porque não tenho cartão de crédito. Fiz tudo direitinho, mas a resposta do site era sempre a mesma: "O pagamento falhou, nenhuma transacção foi registada. Por favor tente mais tarde. Obrigado". Lá fui almoçar sem prenda.
Para compensar não ter prenda achei que seria giro ele ir buscar os miúdos e estarem lá os três com um cravo cada um (há muitos anos que lhe ofereço cravos vermelhos no aniversário). Pedi a uma amiga que trabalha perto da escola da Bea para comprar os cravos e entregar-lhos. Assim, depois das aulas ela podia ir ter à escola dos irmãos com as flores. Liguei a um e a outro para ver se não haveria desencontros e tal e estava tudo nos conformes. Nisto liga-me o Jaime, já com os miúdos, e eu toda contente a correr com o telefone na mão para o atender (aqui dentro não tenho rede) e ouvir do outro lado uma voz ligeiramente emocionada, mas em vez disso pergunta-me ele: "que farinha queres"? Tinha ido às compras, portanto.
Depois deixou os miúdos em casa e ofereceu-se para me vir buscar ao trabalho. Pronto, estava safa, ia pedir-lhe para irmos ao Saldanha buscar uma coisa e poderia surpreendê-lo com champanhe e ostras no Parte 2. Assim foi. Correu bem, portanto.
Mas o melhor estava para vir, achava eu, íamos comer sushi, ou o Jaime ia comer sushi, que aquilo é demasiado caro para um jantar de família, e cantar os parabéns com um bolo feito pela Bea.
E eis que o imponderável acontece - o Jaime começa a sentir-se mal. Sim, eu tenho um tabuleirinho cheio de peixe cru enrolado em arroz, peixe cru em cima de arroz, peixe cru em fatiinhas lindinhas, do Sushi Café, e o Jaime está mal disposto.
Não sei muito bem como, ele acabou por conseguir comer e jurar que estava delicioso, mas cá para mim ele não quis foi desiludir-me.

O bolo feito pela Bea

Festa em seis partes

8.4.13
Então, resumidamente, a minha festa do 40.º aniversário foi maravilhosa. Fiz bem em confiar no moço, ele sabe mesmo organizar uma festa. Começou logo por escolher a cidade perfeita e os meus amigos fizeram o resto:

Parte 1- Chegada ao Porto com jantar na mesa e a casa, que esteve fechada durante três meses, limpa e arrumada. Tudo isto graças aos serviços fantásticos DaJoana.

Parte 2 - Pequeno almoço no Moustache, seguido de cabeleireiro e esteticista.

Parte 3 - Piquenique nas Virtudes, com mais comida DaJoana, seguido de uma pequena incursão cultural no CPF e Piolho.

Parte 4 - Jantar no Pombeiro (a meio do jantar o Jaime levou os meninos a casa, onde ficaram com o meu irmão).

Parte 5 - Diversão nocturna (que me passou ao lado derivado ao meu fígado e outros órgãos internos que se viram irremediavelmente afectados pelos excessos do dia).

Parte 6 - Motel.

Foi perfeito? Foi. O moço não só me conhece muito bem, como tem um talento especial para os detalhes. Por exemplo:
- Sair de Lisboa a uma sexta-feira ao final do dia, com três cachopos no carro, pode ser muito complicado e o Nicolau estava particularmente mal disposto. Mas depois há o jantar à nossa espera, as velas espalhadas pela mesa e pela casa.
- Ao pequeno-almoço estavam os dois felicíssimos, tão felizes que alguns clientes do café se sentiram obrigados a mudar de sítio. Mas depois eles ficaram com o pai e eu fui ao cabeleireiro.
- O Isaac passou grande parte da tarde mijado, porque fez xixi nas calças, como sempre que vamos ao Porto, mas secou mais ou menos rápido com tanta correria e, além disso, o pai desapareceu com eles para voltar a aparecer já com outra roupa no restaurante.
- E nem sempre foi fácil que eles se portassem bem (no CPF, no café, no restaurante,etc.), mas eu podia fazer de conta que não era nada comigo. Tirando um ou outro momento...
- Passei muitas horas seguidas rodeada por quase todas as minhas pessoas preferidas, a sentir-me cheia de toda a espécie de sentimentos bons.



Parte 1 (com um bocadinho do meu vestido de flanela) 

40

5.4.13
No dia do meu 40.º aniversário estou a trabalhar, coisa que já não acontecia há cinco anos. No dia do meu 40.º aniversário vesti o vestido de flanela, porque era a única coisa que não estava para lavar, ou a secar. No dia do meu 40.º aniversário vou comprar o jornal, porque é dia de ípsilon (e aproveito para ver no Público quem mais faz anos hoje). No dia do meu 40.º aniversário ostento um belo buço. No dia do meu 40.º aniversário está frio. No dia do meu 40.º aniversário inaugura uma exposição na Gulbenkian sobre esta mulher que tanto me emociona (por mais que digam que está na moda, blá blá blá). No dia do meu 40.º aniversário oito braços enroscaram-se em mim logo pela manhã. No dia do meu 40.º aniversário acordei contrariada e, estranhamente, um bocado feliz.
E o dia do meu 40.º aniversário ainda mal começou.

Ch-ch-ch-ch changes

4.4.13
Diz que há coisas a ser preparadas para festejar o meu 40.º aniversário. Eu não gosto nada de festas surpresa mas ele disse "confia em mim" e, como há poucas pessoas no mundo em quem confie tanto como nele, eu disse "tá bem".
Diz também que para a semana começamos a mudar de vida.
É Abril. Só faltas tu, ó Primavera.

Perguntas que eu gostava mesmo de saber a resposta

3.4.13
Será normal eu estar nervosa, tipo, com um bocado de medo e tudo, por causa de mais uma reunião de final de período com a directora de turma da Beatriz? (Definitivamente, a miúda tem razão para se sentir pressionada.)

Mas foi bonito enquanto durou

2.4.13
Ao longo dos últimos dias houve uns intervalos em que pensei que se calhar era, finalmente, uma pessoa crescida. Dessas pessoas que aceitam as coisas tal como são, que não gastam energia em desesperos inúteis, que sabem o que têm de fazer para as coisas funcionarem o melhor possível.
Durante os últimos dias passámos horas e mais horas em transportes públicos (eu e os rapazes e depois eu, os rapazes e a rapariga e o órgão dela), apesar das várias tentativas de dissuasão por parte dos meus queridos familiares que achavam que as saudades e o ar puro não compensavam a empreitada; Durante os últimos dias quase não discuti com a minha mãe; acordei cedo para jogar futebol à chuva e não me custou assim tanto como isso; também fiz algumas limpezas sem vociferar. Durante os últimos dias cheguei a pensar que me tinha tornado uma pessoa diferente (talvez por ter sobrevivido a dias e doenças tão complicadas), mas depois mudou a hora e fodeu tudo. Era verem-me hoje de manhã a rosnar para os miúdos, a ameaçar deixá-los em casa, porque eu estava com pressa e, a avaliar pela forma como o Isaac me olhava, a falar com eles de ar tresloucado.