Do que nos apetece

29.10.12
Sim, talvez fosse de bom tom a Beatriz estar educada para levantar e pôr a mesa sem ser preciso pedir-lhe, ou arrumar o quarto dela sem ameaças, ou apanhar coisas do chão em vez de as empurrar para o lado. Mas os bons tons, enfim, combinam mal comigo. É óbvio que é importante ela ter noção que precisa de colaborar, que as coisas não aparecem feitas por magia e, sobretudo, que a auto-suficiência é tão importante como uma licenciatura antes de Bolonha. Mas, confesso, não consigo ficar zangada quando ela se põe a fazer um filme com fotos de família no computador em vez de arrumar o quarto. Sinto, até, uma ponta de orgulho. E, muitas vezes, recrimino-me por disparatar com ela quando estou aflita, com um no banho e o outro a atacar a despensa, enquanto ela está sentada a ler um livro, porque nada deveria ser mais importante do que ler um livro, mas, enfim, nem sempre podemos fazer o que nos apetece e também é preciso aprender isso.

Mas (e talvez eu esteja apenas a rejeitar o modelo com que fui educada) não consigo evitar educá-los a acreditar que fazer o que nos apetece não tem de ser necessariamente mau. 
Se fosse mau, hoje não me teria cruzado com um parágrafo de Moby Dick, no livro "A Terra Vista da Terra" de Seth Stevenson e recordado o que levou Chatwin a torna-se um escritor de viagens, num dos prefácios do livro "Diário de uma Médica em Moçambique ". Isto porque passei duas horas na Fnac, só porque sim (todas as Fnac têm uma sala de leitura com música clássica, como a do Chiado?). E ainda fui à biblioteca Camões ler um bocadinho da entrevista ao Manoel de Oliveira no JL. Tenho de lá voltar para ler o resto. E depois, nem de propósito, ainda dou com este post da Dora.

A Ponte de Londres Vai Cair

26.10.12
Eu gostava muito de dizer que esta brincadeira foi mesmo gira, que nos divertimos muito e tal e que eles são tão giros, que são, e eu tão espectacular, que sou, mas na verdade isto representa tão somente o desespero.  Ainda há muitas coisas pendentes na nova casa velha: prateleiras para guardar coisas na despensa sem ser a monte e fé em deus; estendal para dentro de casa, porque chove e o cesto da roupa suja veio cheio da outra casa e nesta o estendal é mais pequeno, muito mais pequeno; inventar espaço para carrinho de bebé, triciclo e cadeira para comer (esta coisa de não querermos/podermos comprar muitas coisas, tem as suas desvantagens, porque temos uma bela cadeira de plástico da Pierre Cardin, herdada de sobrinhos, que quase ocupa mais espaço que uma cama), e etc. etc. etc. Além disso, claro, as crianças estão doentes com conjuntivite e afins, desde quarta-feira.
E eu desespero. Desespero, mesmo. E sinto-me mal por isso e por ter um blog tão pessoal (se ao menos soubesse como é que não se tem um blog pessoal...), mas vou fazer o quê? Ah, sim, fazer de conta. Pois, podia fazer de conta, mas isso só mesmo com os pequenos, que merecem e precisam da fantasia.
Por isso, no meio do caos que está esta casa e a minha maravilhosa cabeça, lembrei-me de calçar sapatos aos bichos deles, depois de disputas várias pelo mesmo brinquedo, para dançarem sapateado ao som da música cujo significado me ultrapassa (mas nem tudo tem de ter um significado), "A Ponte de Londres Vai Cair". Eles acharam muita piada, naturalmente, e eu tive de repetir a cena vezes sem conta. E eram, ainda, quatro da tarde...

Sou uma pessimista cheia de optimismo

25.10.12
Sou apanhada desprevenida pelas coisas boas da vida mais frequentemente do que o contrário. Ou seja, fico sempre mais assarapantada num momento de felicidade do que de tristeza, ou desespero. Mas, apesar disso, sou uma pessoa optimista. Se não o fosse não teria tomado as opções que tomei até agora - estou sempre à espera, ou à procura, de melhor. E, por isso, estou sempre a desiludir-me.

Pornografia

24.10.12
Tenho falhado várias sessões de piscina, por razões óbvias, mas sempre que vou cruzo-me, à saída do duche,com a mesma rapariga nua. Ou melhor, cruzo-me com o cu de uma determinada rapariga, que está sempre de costas para toda a gente, debruçada, a limpar os pés, ou as pernas. Também pode estar a espalhar creme hidratante, não tenho a certeza. E penso, invariavelmente, que a mulher ou é totalmente despudorada, ou muito ingénua/inexperiente. Mas, no fundo, eu sei que o problema é este meu cérebro cheio de pensamentos porcos.

Queridas leitoras (que comentaram no post anterior)

24.10.12
Vocês são mesmo umas queridas. Acharam mesmo que a proposta de trabalho era para mim? Eu estou em casa há quase quatro anos, não tenho propostas de trabalho, quando muito recebo respostas a trabalhos propostos por mim e mesmo assim, sabe deus! Não, caríssimas, a proposta de trabalho no estrangeiro é para o Jaime, que não ficou em casa com os filhos e por isso, mas não só por isso obviamente, tem uma carreira fulgurante, enquanto eu engordo e envelheço ligeiramente frustrada e, por estes dias, tremendamente amargurada. Que é uma coisa um bocado parva e inútil, a amargura, mas as coisas são como são.

Conclusões de mais uma mudança*

23.10.12
1) sou viciada em internet, comprei uma dose que dá para 24 horas, enquanto não vêm cá montar os cabos;
2) é mais complicado gerir a cena familiar sem fogão do que sem frigorífico;
3) mas ter um bidé simplifica os banhos, quando não há água quente;
4) é cada vez mais natural para mim passar de uma casa para a outra e senti-la nossa;
5) estou a considerar deixar a maior parte das coisas nos caixotes, assim da próxima é só arrancar;
6) mas isso deve ser porque no dia em que mudámos de casa soubemos que a partir de Janeiro a casa do Porto está livre e chegou uma proposta tentadora de trabalho no estrangeiro;
7) as encruzilhadas são uma merda.

*Nem sei como é que ainda não tinha criado uma etiqueta mudanças

Aviso

21.10.12
Esqueci-me que as mudanças implicam ficar sem rede. O horror, para mim, obviamente, que vocês perdem muito pouco!

Estou quase, quase a dar razão à minha mãe*

19.10.12
Portanto, no dia mais complicado das mudanças eu estou com o período**


*Só não dou, porque tenho muitas dificuldades em acreditar que o diabo, ou quem quer que seja, se interesse pela minha vida.

** E sim, isto poderia não ser minimamente relevante se:
1) eu me conseguisse mexer sem borrar a roupa;
2) fosse capaz de manter uma conversa normal durante mais do que 15 minutos;
3) não fosse a altura em que sou gaja para dizer mais palavrões do que palavras.

Target

18.10.12
Já percebi porque é que sou imune à publicidade: quando vejo a da Sumol, aquela que passa nas salas de cinema, acredito piamente que é dirigida a mim, ou seja, sou salva pelo target.

18 de Fevereiro de 2010

18.10.12
" O Mexia diz que "Suite Dama da Noite" é um livro existencialista. A ver vamos.
Agora vou tomar banho. Tomo banho quando não sei o que me apetece fazer. Quando as opções me parecem todas demasiado difíceis, ou desajustadas. O Isaac não chora quando está no quarto de banho comigo. Por isso parece-me uma boa opção. Vou tomar banho."

Encontrado numas folhas agrafadas no meio de uns cadernos. Pouco depois da data escrita no papel comecei o blog, claro. Por isso, aproveito para dizer que estou em pânico, ainda há milhares de coisas para empacotar/arrumar...

Tréguas

17.10.12
A Beatriz anda de muletas, porque caiu-lhe um extintor em cima do pé. Ligaram-me da escola que a menina tinha de ir para o hospital, porque tinha havido um acidente e tudo em mim deixou de funcionar, a circulação sanguínea estancou, o coração parou, deixei de pestanejar, respirar, etc. Só o ouvido direito aguardava o resto da informação. Era por aí que a senhora devia ter começado o telefonema - olhe, caiu um extintor aqui na escola, a sua filha estava lá perto e levou com ele no pé, pronto, eu até me tinha rido, talvez.
Depois caí eu, de costas, de cima de uma cadeira, a tentar limpar a parte de cima de uma das portas do armário da cozinha velha da casa nova. Insultei a cadeira e voltei ao trabalho sem conseguir evitar pensar que os acidentes acontecem, mesmo, quando menos se espera.
Seja, como for, e não sei se é perceptível no meu discurso, não atribuí grande importância aos incidentes, uma vez que não resultaram em nada de muito grave, mas depois ligou-me a minha mãe e para explicar porque é que o Jaime tinha ido buscar a Beatriz, lá tive de lhe dizer que ela anda de muletas e o porquê e ela interrompe para dizer (é uma coisa que ela não consegue evitar) "só pode ser o diabo", eu decido ignorar, claro, até porque estou mais do que habituada a comentários absolutamente despropositados da parte dela, mas fiquei a pensar se haveria alguma forma de pedir educadamente ao "diabo" para me dar umas tréguas.

Muito bom

15.10.12
Sim, tudo está bem quando acaba bem. E não há sentimento que se compare a ver o nosso gajo regressar, sobretudo acompanhado da banda sonora "pai, pai, paiiiii;" e coreografia de braços estendidos, perninhas arqueadas, beijos repenicados, olhos a brilhar and so on and so on (não sei, pareceu-me bem aqui o inglês, afinal estávamos no aeroporto).
Mas, pronto, esse momento já lá vai. Agora temos o pai a recuperar do jet lag e do dia passado em casa com os dois, enquanto a mãe, bom, não tem que recuperar de nada, porque a mãe não faz nada, como se sabe. E eu até podia estar a ser irónica (que estou, é certo), mas esta é a realidade de milhares de mulheres, assim por alto. Mulheres que tratam dos filhos sozinhas e que, ao contrário de mim, trabalham para os sustentar, sozinhas. Portanto, nem vou por aí. Até porque eu, supostamente, pertenço a uma "classe" que pode (e deve) trabalhar para pagar a quem me limpe a casa, limpe o cu aos meus filhos e me limpe o cu a mim, daqui a uns anos. Mas, bom, eu pareço ser a única portuguesa que nunca esperou que um canudo fizesse a diferença por aí (e eu tinha tudo para esperar isso, mas por aqui, então, é que não vale mesmo a pena ir).
Ou seja, voltamos ao normal. E normal é bom. Não é sempre, mas algumas vezes normal é bom. Eu diria até que é muito bom.

Dia 13

13.10.12
O dia mais comprido de todos, depois da noite mais comprida de todas. Dormi sentada grande parte do tempo com o Nicolau ao colo, que ele não é a traineira que é o Isaac, quando está doente, mas só está bem no colo. Ainda durante a noite, todas as camas, menos a da Bea, que esteve sempre vazia, foram vomitadas. Mesmo assim, e apesar do meu terrível mau humor, o dia não correu mal de todo. Só não percebo porque é  que eles, os rapazes, não gostam de canja.
E, pronto, não se pode dizer que tenha corrido tudo bem, mas, ao fim e ao cabo, tudo corre bem quando acaba bem, não é assim? Que é basicamente o que vamos confirmar daqui a 18 horas, certo?
De resto, olha, não me vou pôr aqui a fazer contas para dizer que só um de nós é que sabe o que é estar 336 horas totalmente sozinha a cuidar de três filhos. Dia e noite. E metade dessas horas a cuidar de dois filhos doentes.

Dia 11

11.10.12
O Isaac está doente. O Isaac doente fica transtornado. Quase que ia ao hospital por achar que ele estava com uma apendicite aguda.
Depois da exposição recebi o telefonema da escola. Fui buscá-lo. Queria trazer os dois, mas o Nicolau dormia profundamente. Avisei que iria mais tarde do que o costume, porque teria de esperar pela Bea para ficar com o Isaac. A Bea ficou na conversa com os amigos e atrasou-se, claro, logo hoje. Nem consegui ficar preocupada, porque estava demasiado furiosa (além de ter deixado o telemóvel à mão de semear para ser roubado, ainda se esquece do que combinamos para estas duas semanas). Fui buscar o Nicolau com o Isaac. Ele lá estava, às 17h30, feliz da vida. Eu a arfar, praticamente a ter um ataque cardíaco, a não dizer coisa com coisa a todas as funcionárias da escola, e o bebé completamente relaxado, contente por nos ver. Ele é de facto raro, como dizes. Vim para casa, com o Nicolau ao colo, a empurrar o carinho com o Isaac. Acredita, eu mereço mesmo um lugar no céu (ou seja, ir ter com uma amiga a Paris, ou a Berlim).
Para o jantar fiz panados sem arroz de tomate, cozi a tal massa que chegou hoje (é boa sim senhora, Xana), e a casa ainda cheira a fritos. Houve um tempo em que esta casa tinha velas aromáticas, lembras-te? Pois, agora é levar com os fedores, pronto.
A Bea telefonou à amiga a dizer que não ia à festa, depois de me ver tão zangada. Suponho que também não deveria estar com muita vontade de ir.
Vi o "Foi Assim que Aconteceu", já não via televisão há uns dias.
Não sei como te dizer isto, mas abri A garrafa de vinho. Estava necessitada. Eu sei que compreendes.

P.S Ainda fiz esta almofada à pressa para a Bea oferecer à amiga, fã do Michael Jackson, que faz anos.

Arte

11.10.12
Quando entrei em casa e comecei a preparar o pequeno-almoço, depois de os deixar nas respectivas escolas, olhei à minha volta e decidi que não ia fazer nada do que tinha para fazer. Decidi que ia sair de casa para bem da minha sanidade mental. Enquanto tomava o pequeno-almoço fui ver à net o que havia por cá de exposições e escolhi esta. Em boa hora o fiz, porque não há nada que nos faça acreditar mais na humanidade do que a arte.
É claro que se eu percebesse um bocadinho mais de arte contemporânea, ou de artes plásticas em geral, seria bem mais interessante, ou pelo menos evitava certas figuras tristes como estar à espera que este senhor se levantasse e me pregasse um susto.
Enfim, pelo menos senti que não sou tão ignorante quanto isso, ao reconhecer trabalhos e artistas que aprecio bastante: como a Carla Filipe, o Francisco Tropa ; a Ana Vidigal; a Fernanda Fragateiro e a famosa Joana Vasconcelos. Mas o que me deixou de queixo caído, confesso, foi este vídeo do Julião Sarmento e este do Miguel Palma.
Ah, e a colecção Arpad Szenes - Vieira da Silva, claro, mas essa já tinha visto.

Dia 10 (em modo telegrama)

10.10.12
O Nicolau acordou às 4h00 e demorou a voltar a adormecer. Foi o dia em que acordámos mais tarde, 7h40, mas a Bea chegou a tempo à escola. Os rapazes ficaram bem. Tomei banho. Antes mudei a areia dos gatos. Comemos uma dourada enorme ao jantar. O Isaac fez-me apanhar peixes no ar para os pôr na água e dar-lhes milho. Os dentes do Nicolau cresceram. A Bea tem uma festa na sexta-feira. O leite de soja estragou-se. Optei por comprar pacotes dos pequenos. Estou deprimida. Há muita gente interessada no roupeiro, mas ainda não o vendi. Foram despedidas 48 pessoas do Público. Os rapazes foram dormir à hora do costume.

P.S A dourada era de aquicultura.

Perguntas que eu gostava mesmo de saber a resposta

10.10.12
Mas afinal para que é que serve guardarmos as primeiras roupinhas deles?

Até onde poderei descer mais

10.10.12
Fui levá-los à escola, tomar café e ao supermercado com a calças cheias de nódoas. E quando eu digo cheias de nódoas, estou mesmo a ser honesta. A nódoa na perna direita parece ser de café, ou leite com café, e é antiga, porque nota-se que não saiu na última lavagem. A da perna esquerda é do brufen que o Nicolau cuspiu ontem, ou antes de ontem.
Depois venho com os sacos das compras por aí fora, a parar aqui e além para descansar os braços, e apercebo-me que cheiro mal. O cabelo está preso, mas não sei se disfarça a oleosidade, suponho que não.
O aprumo excessivo, nas casas, nas pessoas, sempre me soou a falso, ou a comportamento obsessivo, mas escusava de me ter tornado numa badalhoca.

Dia 9

9.10.12
Tudo nos eixos, Jaime. O Isaac e a Bea foram para a escola, como de costume. O Nicolau foi ao médico e parece que não é nada de especial. Depois, dormiu três horas na sesta, portanto a cozinha e restantes divisões da casa estão aceitáveis.
Comemos frango da churrasqueira ao jantar e foi a melhor decisão que tomei, não só porque não tive de cozinhar, mas sobretudo pela reacção do Isaac:
- Mamã estou tão feliz!
- A sério? então, porquê?
- Porque compraste batatas fritas.

De resto, olha, chateia-me o fuso horário que nos separa e as dificuldades de comunicação. Por outro lado, ainda bem que não consigo ver-te em condições no skype, temo que se conseguisse ver os teus olhos choraria (mais do que o habitual).
Falta pouco.

P.S O Nicolau acordou às 7h00 e o Isaac às 7h30.

Vaidade

9.10.12
Eu ainda não recebi a massa Milaneza para as crianças, porque decidi dar a morada da casa nova a achar que ia lá passar a semana a limpar vidros e armários e depois tive de ficar na antiga casa, que por acaso é a que estou a habitar, sem frigorífico, mas deu-se o caso do bebé ficar doente, como já toda a gente sabe. 
Ainda assim, e para verem como me sinto importante por quererem mandar-me massa para casa, já estou a falar disso. Também já me quiseram dar dinheiro para escrever sobre determinado assunto, que recusei, por não saber como o fazer, e já convidaram as minhas crianças para um evento, que também me vi obrigada a declinar por ser no dia em que chega o meu querido rapaz grande, mas enfim, este interesse das marcas no meu blog deixa-me atarantada.
Atarantada e um bocado vaidosa, admito.

Dia 8

8.10.12
Passei a vida, ou uma minúscula parte dela, a criticar as pessoas que ficavam felizes às segunda-feiras, porque podiam finalmente respirar, sem as crianças de volta das pernas, e desesperadas em Agosto, porque as escolas estão fechadas e não há como ocupar a criançada para que os progenitores possam continuar com as suas vidas. Mas para que raio têm as pessoas filhos, afinal? Esta gente quer ter filhos para andar a despachá-los? dizia eu, a pouquíssimas pessoas, felizmente, com a minha filha única a ocupar-me a vida toda, e a dar-me cabo do juízo, porque decidi que não tinha nada que a deixar numa creche aos quatro meses só porque sim, porque tem de ser.
Pois, hoje, ao oitavo dia (quarto com os dois em casa), estou a rezar para que amanhã o Nicolau não tenha febre para poder ir para a escola. Isto de ficar sem frigorífico, que obriga a compras diárias para não estragar comida, e com um deles doente, não estava programado. E se é certo que eu vivo na ética da floresta (abreviando, ou indo directa ao assunto, que eu sei que não há tempo para ler um post daquele tamanho: "Quem vive na ética da Floresta não tem medo do caos, entende que o caos é criativo"), também é certíssimo que a minha paciência tem limites, o que seria muito normal e estaria tudo muito bem se eu não me estivesse a transformar na minha mãe, a gritar pela casa que me estão a pôr louca e velha e doente e... Logo eu, que sempre odiei isso na minha mãe, o colocar-nos o ónus do problema, quando claramente ela é que não sabia o que fazer.
Enfim, isto para dizer que foi um dia de merda - nem as varejas faltaram de volta dos pratos sujos na cozinha, depois de uma noite de merda, com o Isaac a acordar mais vezes que o Nicolau, e uma manhã diferente, digamos assim, porque deixei que a Beatriz acordasse devagar para que a ida para a escola sozinha não lhe parecesse tão pesada. Faltou à primeira aula.
A parte boa do dia: nós os três, eu e os rapazes, a dormir uma sesta fora de horas na sala. Por causa disso, deitaram-se depois das 21h00. Vamos ver a que horas acordam amanhã.

P.S Comprei almôndegas no Dia, sem olhar para os ingredientes. Não comemos sopa ao jantar.

Que grande exemplo estou dar

8.10.12
A minha filha continua a afirmar peremptoriamente que não vai ter filhos, que para ela a carreira será mais importante.

Dia 7

7.10.12
Em vários momentos do dia ocorreram-me, não em simultâneo, duas coisas: "uma semana já está, safámo-nos bem" e "isto é demais para mim".
Um senhor ofereceu bolachas aos rapazes no metro.
Tem estado um tempo primaveril em Lisboa. Preciso de algum frio, enquanto não temos outro frigorífico. Ou isso, ou começo a salgar comida.
As lulas foram para o lixo.
O Isaac cheio de sono, mas a argumentar que não queria ir dormir: "eu estou só um bocadinho cansado porque quero o pai".
O Nicolau é, agora, um ser híbrido, meio bebé, meio koala agarrado ao meu pescoço, mesmo assim a  Bea conseguiu adormecê-lo. E deu de jantar ao Isaac.
Espero pelo próximo domingo.

P.S comemos todas as bolachas de chocolate que havia.

Dia 6

6.10.12
Olha, hoje não me apetece isto, está bem? Não é novidade para ti, é um daqueles dias "deixa-me estar, não me faças perguntas, não me apetece falar?" E é injusto, eu sei, são 6h00 aí em Timor e tu vais dormir agora, 24 horas depois de acordares. 24 horas seguidas a trabalhar, mais coisa menos coisa.
Além disso já sabes o essencial: dormi com o Nicolau no colo. Fui às compras de autocarro com o Isaac, que estava felicíssimo, a Ana levou a Bea ao Tivoli (e, isto não sabes, ainda me trouxe doces); a Xis trouxe-a a casa e ficou para jantar: pataniscas de pescada e bacalhau, para aproveitar o peixe que estava no congelador (para quem não sabe, hoje vendi o frigorífico e ainda não tenho o novo), com o arroz de ervilhas do almoço e salada. Tenho de descobrir como combinar salmão com lulas para amanhã.
Deitaram-se ambos mais tarde, mas bem dispostos. A Bea está de rastos e outra coisa não seria de esperar depois de quatro horas e meia de ensaio mais 40 minutos de concerto...
O vinho que deixaste na despensa é todo bastante bom e está acabar.

Dia 5

5.10.12
Afinal é um belo de um vírus e está a fazer mais estragos. O Nicolau está febril e choroso.
Não saí de casa. Como é que aguentei tantos, tantos, tantos dias sem sair de casa, no último ano e meio, é um mistério para mim. 
A noite foi bastante aceitável, com as três interrupções costumeiras e o despertar normal, o Nicolau às 6h30 e o Isaac depois das 7.00h. 
Percebi que o Nicolau estava a chocar alguma e fiz das tripas coração para ligar à  mãe da M. para dar boleia à Bea. Ainda bem que o fiz, porque o ensaio não era no Tivoli, mas sim no Conservatório. Lá foi a pequena sozinha, depois da jardineira descongelada e aquecida. 
Não sei bem o que fizemos durante a tarde. O Isaac não dormiu a sesta e por isso esteve mal disposto grande parte do tempo, ainda assim "leu-me" histórias, foi trabalhar para Timor e andámos de tapete voador (eu a arrastar aquele caixote grande com os dois às gargalhadas em cima dele).
Não tomaram banho e decidi não insistir em dar-lhes mais do que a sopa ao jantar. Uma daquelas tigelas cheia para os dois. Eu e a Bea comemos salada de atum com feijão frade. O Pêra Doce é bom.
Antes disso vieram buscar a estante, um casal simpático e muito tímido. 
O Isaac chorou, pela primeira vez, por ti. Quando o vou deitar ele costuma dizer que quer os dois, com aquele sorriso malandro, do género eu sei que não é possível, mas hoje insistiu que queria o pai. Eu sei que isto te parte o coração, mas já sabíamos que lhe ia custar. Eu disse-lhe que não demoravas muito e ele disse "tá bem" e virou-se para o outro lado. Adormeceu, a ver-te chegar a casa e a pegar nele ao colo, imagino eu. 
O Nicolau abre a boca, para te dar beijos, de cada vez que vê a tua foto no computador. Torna-se claro que os dias começam a pesar.
Suponho que vou passar grande parte da noite com o Nicolau ao colo (hoje não consegui que adormecesse na cama). o Ben-u-ron acabou, espero que ele não tenha muita febre durante a noite, mas se tiver ainda há Brufen.
A tua mãe ligou e pediu para te mandar um beijo grande quando falasse contigo.
Estou verdadeiramente cansada. Acho que vou ver televisão antes da Duras.

Dia 4

4.10.12
Foi o dia mais estranho. A noite foi relativamente calma, levantei-me só duas vezes, mas foi preciso mudar a fralda ao Nicolau. Está com diarreia, o que não me espanta depois das porcarias que comeu (bom, foram só duas gomas e bolo de chocolate da aniversariante da sala do Isaac). Também pode ser um belo de um vírus qualquer, mas por enquanto não está fazer grande mossa.
Mas, dizia eu, foi um dia estranho. Primeiro, porque me apeteceu ficar com eles todos em casa. Ou melhor, com eles todos na nossa cama. Fazer de conta que o mundo não conta. Cheguei a medir todos os prós e contras. Ainda por cima, assim que fui buscar o Isaac, que acordou às 7h06 (isto é sempre a melhorar), ele disse-me que queria ficar em casa. Por qualquer razão, achei mais seguro jogar pelo seguro e seguir as regras.
Depois, a segunda coisa estranha (agora que penso nisso, a primeira não é nada estranha, passo a vida a querer fazer de conta que o mundo não conta): o Taxi avariou no meio da Av. Álvares Cabral. 
E a terceira, a conta da frutaria: 8.88€.
E foi isso. O resto tudo normal, acho eu, incluindo o bilhete na campainha do prédio: "Beatriz, estou na escolinha  dos meninos, numa reunião, vai lá ter connosco. Beijinhos".
A reunião depois conto, mas não poderíamos considerar homeshcooling outra vez? Eu gosto daquelas pessoas (e para mim isso é o mais importante, pelos menos no pré-escolar), e percebo as regras, mas não seria tão bom, tão bom respeitar a diferença, perceber que cada criança é uma criança? É claro que não queremos criar meninos com o rei na barriga, mas com o rei na cabeça até nem seria mau, seria? (mas para discutir este assunto é ir ao sítio do costume).
Passava das 18h00, quando acabou a primeira parte da tal reunião. Saí da sala e fui procurá-los. Estavam os três na sala verde. Cansados. Abraçaram-me ao mesmo tempo. Caguei na cena e vim para nossa casa. Eu tenho um limite no que diz respeito a seguir as regras, já sabes.
Banhei-os à vez e fiz tortilha para o jantar. 
O Nicolau foi o primeiro a dormir. Já não quer colo para adormecer. Diz adeus aos irmãos com a mãozinha pequenina e atira-se do meu colo para a cama. Adormece logo a seguir.
O Isaac passou o jantar a rodar aquela coisa de tirar a água da alface. E nestas alturas percebemos, claramente, porque é que não temos vida social, porque é que o espelho nos mostra uma pessoa com cabelos brancos e uma barriga proeminente cheia de covinhas.
É tudo muito giro e espectacular, já sabemos, mas estar à mesa com um puto que passa o jantar a rodar a bacia verde, primeiro com as duas folhas de alface que eu permiti, depois com o saca-rolhas, porque estou-me a cagar, deixa-me comer em paz e sossego e acaba o teu prato, é uma cena que pouca gente estaria disposta a assistir.
E pronto, agora dormem os dois. Vou mimar a mais velha para depois nos deitarmos juntas, como ela adora. 
Até já.

P.S continuo a receber propostas de publicidade e já não sei bem como lidar com isso. Podes apanhar um avião para me ajudar?

Antes e depois

4.10.12

Foi uma vitória sem grandes confrontos, esta da desmontagem da Expedit. Não a insultei uma única vez. Quando percebi que a coisa podia ficar mesmo complicada, se insistisse em continuar sozinha, pedi à Bea para me ajudar a deitá-la na cama e assim, com todo o cuidado e carinho, a estante voltou à forma original.
Uma lição de vida é o que é.

Dia 3

3.10.12
A melhor noite até agora: só precisei de me levantar três vezes (há muitos meses que isto não acontecia, ah?). E ainda por cima acordaram, repara, 10 minutos mais tarde. Portanto, às 6h50. Os dois ao mesmo tempo. O Isaac não comeu pão com manteiga e iogurte, como tem comido, preferiu Nestum. Por momentos pensei que ia querer a massa que estava a cozer para o almoço da Bea, mas não.
Idas e vindas da escola dentro do normal. Houve uma festa de anos e deram-me um daqueles saquinhos cheios de guloseimas. Regresso pacífico, portanto, tirando a impressão nos dentes e na consciência ao ver tanto açúcar a ser deglutido pelas crias.
Compensei a coisa com sopa de espinafres (não comeram muita, mas deu para atenuar a culpa) e frango em massa folhada.
Os maiores stresses do dia: Chegar a casa a suar, ligar o computador e não estares online quando o Isaac queria mesmo, pela primeira vez, falar contigo; receber a pessoa interessada no nosso frigorífico com o Isaac em cuecas, o Nicolau acabado de sair do banho, a panela da sopa à espera de ser passada e a roupa em cima da máquina de lavar; o momento em que estive quase, quase a ficar sem pés para desmontar a Expedit.
Parece que o Isaac levou um puxão de orelhas da C. Na escola disseram que ele estava muito "traquina e gozão" e em casa ele puxou-me uma orelha, enquanto me sussurrava com voz assustadora que não estava a brincar. Fiquei gelada. Compreendo que seja necessário, mas não deixa de ser estranho.
A minha mãe telefonou-me. Comprou uma cama articulada para a minha avó (sim, pôs a cama na sala).
Vou ver se consigo acabar de desmontar a estante com a ajuda das Bea, apesar de só faltarem 10 minutos para a hora dela ir dormir.

Dia 2

2.10.12
A noite foi daquelas más. Levantei-me não sei quantas vezes para dar não sei quantos biberões de leite e repor chupetas na boca (o Isaac queria convencer-me a sair da cama às 5h00, mas consegui demovê-lo dessa ideia).
Às 6h00 desisti, levei o Nicolau para a nossa cama, a Bea nem se apercebeu (perguntou depois se o Nicolau tinha ido para o nosso meio a meio da noite). 40 minutos depois acordou o Isaac. Apetecia-me chorar. Primeiro apeteceu-me ignorá-los, depois bater-lhes, mas no fim, quanto percebi que tinha mesmo de me levantar às 6h40, outra vez, apeteceu-me chorar.
Passado esse terrível momento, tudo pacífico. Eles acordam muitos bem dispostos, como sabes. A entrega na escola também pacífica. O Nicolau chama por ti antes de dormir, quando acorda e quando ouve algum carro a apitar. É o Isaac que lhe explica que o pai vem já, que está em Timor, mas volta depressa.
Hoje decidi ir com o carrinho para trazer o Nicolau, pelo que achei melhor levar Oreos para subornar o Isaac. Obviamente, assim que as bolachas terminaram ele pediu para ir para o carrinho.
Mais uma vez o Nicolau jantou primeiro e adormeceu pouco depois das 19h00. Comemos salmão. O Isaac comeu mais ou menos e perguntou se vinhas jantar. Deitei-o pouco antes das 21h00 e adormeceu imediatamente.
Amanhã vem cá uma pessoa ver o frigorífico e na sexta vêm buscar a estante. Espero conseguir desmontá-la.
Na segunda-feira, 8 de Outubro, há uma reunião na creche.
Tenho saudades tuas.

Dia 1

1.10.12
Dou aqui início a uma série de posts que têm como única finalidade encurtar a distância entre a nossa casa e o Jaime. Se podia fazê-lo por e-mail? Podia, mas qual era a piada?

O Nicolau acordou à 1h00 para beber leite e depois às 4h00. Daí, até às 6h00 teve aquele sono intermitente dele. Não o levei para a nossa cama, como temos feito.
O Isaac acordou, às 6h40, e chamou por ti, como habitualmente. Disse-lhe que estavas em Timor e ele exclamou "Ah, pois é!" e acrescentou: "já acordei, quero ir para a sala".
A Bea levantou-se à terceira chamada.
Estiveram sempre bem dispostos. Apanhamos o taxi, às 7h55.
Na escola, entraram os dois muito contentes, a gritar bons dias e olás. O Isaac quis ficar com a C. e despediu-se sorridente. O Nicolau foi para o colo da P. e nunca mais quis saber de mim.
Não encontrei jogadores do FCP para o bolo do Isaac, mas levei três velas azuis e brancas.
A viagem de regresso a casa foi normal, com uma variante: o Isaac pediu para fazer xixi. Ora, entre segurar no Nicolau, que viu ali uma oportunidade para se pôr a andar a sete pés, e na pila do Isaac, acabei por conseguir fazer muito mal uma das coisas. Resultado: o Isaac veio cheio de mijo para casa.
Jantamos jardineira. O Nicolau comeu primeiro, porque estava cheio de sono e por isso não jantou grande coisa. Adormeceu pelas 19h15. O Isaac só comeu a sopa. Deitou-se às 20h15 e acabou de adormecer (21h00).
A Bea acabou os TPC agora mesmo.
Eu vou beber o terceiro copo de vinho.
Espero ouvir-te, daqui a uma hora, quando fores apanhar o avião em Singapura para Timor. Pareceste-me tremendamente sexy, via skype, nesse quarto de hotel (se calhar devia ter optado pelo e-mail).

Perguntas que eu gostava mesmo de saber a resposta

1.10.12
Porque é que algumas mulheres preferem ginecologistas mulheres?