O Pai Natal tem piada

30.11.11
Lembram-se de eu ter pedido ao Pai Natal para ser uma mãe como a Laura? Pois bem, acho que a coisa funcionou ao contrário, ela é que ficou igual a mim.

Trabalho

29.11.11
Fiquei a pensar (além das coisas normais, que ocupam a cabeça de toda a gente, tais como: "se calhar devia ter fotografias bonitas no blog) quais seriam os "trabalhos agradáveis" para mim e cheguei à conclusão que até há bastantes:

*Assistente da Maria do Rosário Pedreira ;
*Residente de residências artísticas;
*Ajudante na retrosaria;
*Livreira na Pó dos Livros;
*Investigadora de cenas;
*Cronista.

MQTEC

23.11.11
Diz-se que há cada vez mais mães que ficam em casa (MQFEC) a tornarem-se mães que trabalham em casa (MQTEC)* e, apesar de achar e saber que é uma realidade, não consigo deixar de pensar como é que conseguem. É claro que a primeira coisa que me ocorre é que estas mães já têm os miúdos na escola, mas não, há um sem número de exemplos, incluindo no nosso lindo Portugal, que o desmentem.
O artigo da CNN apresenta vários casos de sucesso e diz que hoje em dia, ao contrário do que acontecia há uns anos, em que as mães se dedicavam às artes e crafts, há cada vez mais profissionais a trabalhar em áreas como o direito, marketing e coaching dos media, por exemplo.
Ora eu, que ainda estou no passado, fico astonished (a palavra vale por si, mesmo sem tradução) com isto tudo. É que ainda ontem consegui a proeza de costurar durante uma hora, de manhã, enquanto o bebé dormia. Mas para isso tive de deixar o Isaac rasgar uns quantos livros, acabar de riscar o bocadinho de parede que faltava, tirar TODO o tipo de tralha que estava dentro do armário e ainda deixá-lo vir ao meu colo ver a máquina a funcionar.
Depois, à noite, perdi duas horas a descoser o que tinha feito, porque, reparei nessa altura, estava tudo mal.


*tradução livre de SAHM (stay-at-home moms) e WAHM (work-at-home moms), apesar de estas expressões serem tão mais felizes em inglês do que em português.

Do saber aproveitar enquanto dura

22.11.11
Houve um tempo na minha vida em que a esta hora estava a meio da manhã e não a terminá-la. E eu achava que esse tempo era o início de tudo o que me esperava pela frente. Afinal não. Acabou ali.

Alguma coisa se passa

21.11.11
Nos últimos dias aconteceram algumas coisas verdadeiramente preocupantes do meu ponto de vista, que tem um alcance relativamente limitado, como se sabe, uma vez que à minha volta há paredes com janelas para a rua, uma para o país dos brinquedos e outra para redes sociais:
a) estive a juntar mais de 300 (trezentos) quadrados de tecido na máquina de costura ao som da rádio Renascença;
b) fui ao cinema e depois de sete meses à espera deste momento dei por mim levemente irritada por a sala estar cheia, por se ter sentado ao meu lado uma pessoa a tresandar a perfume e a não vibrar com o último Almodóvar;
c) a caminho de casa, pouco depois das 21h00, senti medo;
d) não posso beber leite, enquanto amamentar, porque o Nicolau é alérgico a uma proteína do leite de vaca, e ainda não me armei em desgraçada por causa disso.

Tenho encontrado algumas resposta para questões do passado: será isto a sabedoria?

18.11.11
Já sei porque partilhamos aposentos com bichos que andam com o olho do cu à mostra: é porque os animais domésticos olham para nós com aquele ar de espanto parecido com o dos bebés.

Sim, poliamida, a culpa é toda tua!

14.11.11


















Descobri que esta coisa de tricotar, além de nos dar a sensação que somos espectaculares, porque sabemos fazer coisas giras (às vezes), é mesmo muito relaxante. Acontece que eu, até há pouco tempo, não tinha tricotado outra coisa que não fosse toda ela lã e depois de experimentar esta (que é mesmo muito bonita) cheguei à conclusão que não me serve. Os 25 por cento de poliamida deixam-me os nervos em franja, estragam toda aquela sensação da lã no bambu, no pescoço e nos dedos, que outras (como esta por exemplo) deixam.
Pode ser da minha inexperiência, ou de não ter percebido bem as instruções para fazer as luvas, mas a verdade é que dei por mim a pensar no que me terá dado para me pôr a tricotar e a costurar.
É óbvio que não é preciso fazer um grande trabalho de introspecção para perceber que esta dedicação aos lavores coincide com duas gravidezes quase seguidas, que natural e ironicamente me fecharam em casa quando tinha acabado de me mudar para Lisboa. A questão que me levantei de seguida é que é preocupante: em que me vou eu meter quando a casa não for o sítio onde passo a maior parte do meu dia...estarei a fazer o quê? será que vai continuar a apetecer-me tricotar e costurar?
Shame on you, poliamida, esta não é, de todo, uma boa altura para pensar nisso.

P.S fui confirmar as outras lãs que já usei e parece que menti com quantos dentes tenho. Já fiz meias com esta e esta e adorei, sobretudo a Noro. Só me resta pedir perdão à poliamida.

Às vezes consegue-se ver o tempo passar

13.11.11
Há alguns anos atrás fiz uma reportagem sobre o aloé vera. Nessa altura ainda não sabia fazer reportagens, nem que nunca chegaria a aprender verdadeiramente, mas decidi ser original (todos nós achamos, uns mais que outros, claro, que somos muito originais de vez em quando) e usar nos intertítulos frases de um livro.
Para fazer o trabalho fomos, eu e o Filipe, o fotógrafo, de transportes públicos para Braga, porque nenhum de nós conduzia. Eu estava grávida de pouco tempo e o Filipe, pareceu-me, estava interessado na Andrea.

Passaram onze anos.

A Beatriz está no quinto ano. O Filipe e a Andrea têm dois filhos. O livro de José Riço Direitinho vai ser reeditado e eu ainda não conduzo.

Funeral

9.11.11
Acontece-me, ocasionalmente, ter de largar tudo e sair de casa. Ir como se fosse ao encontro de alguém, de alguma coisa marcada. Ir com pressa. Ir, pronto. E essas idas vão ter, invariavelmente, a um jardim.
Aqui em Lisboa, costumo ir parar ao jardim da Estrela, mas da última vez que isso aconteceu segui, num impulso inexplicável, um grupo de pessoas que entrava na basílica. Lá dentro, duas cerimónias fúnebres. Fiquei para a minha vida. Eu não vou a um funeral há anos, felizmente, mas garanto que aqueles a que fui não eram assim tão, como dizê-lo, higiénicos. Sim, higiénicos é a palavra que me ocorre, em comparação com os funerais a que assisti, onde o sofrimento parecia encher as casas e as igrejas de um fedor insuportável. Os funerais a que eu assisti fediam a sofrimento.
É óbvio que não fiquei lá muito tempo, aliás, saí quase a correr quando me apercebei do que se tratava, mas se não tivesse visto os caixões pensaria que tinha estado num daqueles eventos das empresas. Havia comida em bandejas, funcionários da agência fúnebre fardados e muito profissionais e pessoas que entravam, cumprimentavam-se e ficavam ali em amena cavaqueira.
Ora, eu que sempre achei que um funeral devia ser assim, sem dramas, porque faz parte da vida morrer, dei por mim quase chocada.

Pergunta do dia

8.11.11
Uma mãe que chega ao fim do dia, depois dos banhos, jantares e canções de embalar, olha para os seus pequenos e pensa: "pronto, foi mais um dia, podia ser melhor, mas também podia ser pior, tendo em conta que  me tornei na Mary Poppins em vez da Simone de Beauvoir", é uma má mãe?

O par ideal

6.11.11
"Parece ser uma lei que, antes de um homem e uma mulher se tornarem num par ideal, ambos deverão anteriormente ter atravessado um longo e penoso caminho, encontrar-se num local estranho aos dois, quanto possível longe de qualquer réstia de lar.

Peter Handke, Para uma Abordagem da Fadiga, Tradução Isabel de Almeida e Sousa, Difel, 1989

É simples: poupem vocês

3.11.11
Na década de 70 tomávamos banho numa bacia verde com água aquecida no fogão a lenha. O meu pai emigrou. E lá em casa: "É preciso poupar" e "Nascemos para sofrer". Na década de 80 comemos iogurtes pela primeira vez, a minha mãe abriu um mini-mercado e o meu pai morreu.  E lá em casa: "É preciso poupar" e "Nascemos para sofrer". Na década de 90 fui para a universidade, privada, porque não consegui entrar na pública, mas antes disso trabalhei durante um ano para pagar as propinas. E lá em casa: "É preciso poupar" e "Nascemos para sofrer". Na década de 10 veio o primeiro contrato de trabalho, o primeiro filho, a casa, os recibos verdes outra vez. E lá em casa: "Quem me dera poupar". Na década de 11 veio a Troika e o mundo diz  "É preciso poupar".
E eu nunca soube poupar. É verdade que sempre escrevi no verso das folhas como o sr. ministro Paulo Portas, mas nem sabia que isso era poupar. 
Nunca soube poupar, dizia, e garanto que não é agora que vou começar. Se não se importam poupem vocês, sim? os que sempre viveram à grande e à francesa (ou à alemã, que é capaz de ser mais factual) à custa dos que tiveram que poupar a vida toda.

Pedido de desculpa

2.11.11
Eu não sei se isto - o que eu vou dizer daqui a nada - faz muito sentido, mas estou farta de dar voltas à cabeça, de vasculhar nos sítios mais recônditos do meu cérebro e não tenho ideia de ter pensado nisso - no que vou dizer daqui a nada. Acho que todos concordarão comigo quando digo que facilmente conseguimos estar na pele dos outros quando fazemos um qualquer exercício de imaginação ("Pois, imagino", dizemos muita vezes perante os dramas alheios).
É provável até que muitas pessoas tenham passado mais tempo a viver estas experiências imaginadas do que reais. Eu sei lá quantas vezes me tremeram as pernas a pensar no primeiro beijo (e garantidamente tenho mais primeiras vezes imaginadas do que concretizadas); ou quantas vezes me fugiu o estômago do sítio com saltos de para-quedas e mergulhos da última prancha da piscina da Sopete; ou quantas vezes se tolheu o corpo todo a imaginar a notícia de um cancro, ou de um acidente e por aí fora, que ainda não cheguei ao que queria dizer.
Pois bem, tudo isto e mais algumas coisas já me passaram pela cabeça, mas há uma coisa - a tal que eu ia dizer daqui nada - que nunca me tinha ocorrido: a dificuldade de ter dois filhos pequenos com idades muito próximas. Eu acho que devo ter imaginado isso algures (mas, como disse, não encontro vestígios disso em lado nenhum), porque da primeira vez que fui mãe a ideia de ter outro filho até aos três, quatro anos dela era impensável para mim. E, provavelmente, devo ter pensado que as pessoas que se metiam nisso era porque
a) se sentiam capazes
b) tinham uma criatura paz de alma e portanto o mais natural seria repetir a dose.
Posto isto, quero pedir desculpa a todos quantos passaram por esta situação. Desculpem ter sido capaz de imaginar as coisas mais estapafúrdias e não me ter dado ao trabalho de imaginar aquilo por que estavam a passar. Desculpem, sim? sobretudo as que estavam numa cidade, vila ou aldeia sem avós, tias e primas para os seus pequenos.